Artigo nº 001 - crônica social

O Metrô: o buraco em que nos enfiamos – 1ª parte

Como faço há vários anos, lá estava eu em plena Pavuna, a saltar do ônibus com um bilhete de integração ônibus-metrô adquirido a R$ 4,00. Pra quem não conhece, Pavuna é um bairro que fica no subúrbio do Rio de Janeiro, mas propriamente na divisa com a Baixada Fluminense. Diante do ponto final do ônibus é possível enxergar a rampa de acesso ao metrô, de cinco estágios, destinada a cruzar a linha ferroviária auxiliar (da ex-estatal RFFSA).

Neste dia, consegui ligar no automático, pois que havia combinado comigo mesmo: “hoje vou resistir aos sortilégios mercadológicos”. Assim numa determinação hercúlea, passei varado pelo longo e torturante corredor polonês de camelôs e ambulantes estrategicamente posicionados ao longo do vai e vem do exaustivo aclive.

Cheguei ao topo da rampa com ar glorioso. Havia resistido bem as tentações de toda espécie. Mais uns poucos passos e adentrei no hall de acesso à gare. Confiante e viril, enfiei o distinto bilhete no buraco da catraca eletrônica, que, seduzida, não tardou em me liberar a passagem.

Sou agora, pensei, um usuário habilitado a circular pelas dependências pagas do metrô, afinal havia comprado o direito de ser transportado e, a mercadoria que comprei deve satisfazer a minha necessidade de chegar ao trabalho, como de rotina. Aliás, este é o papel de qualquer mercadoria: satisfazer uma necessidade - seja ela proveniente do corpo (necessidade material) ou do espírito. Lembrei-me assim do “velho” e formidável Marx.

Segui em direção às escadas que conduzem a massa ordeira às plataformas da estação. Antes de iniciar a descida da escadaria, jovens trabalhadoras, autorizadas pelo metrô, oferecem aos passantes cartões telefônicos das mais variegadas empresas. Determinado, porém, a resistir a todo tipo de persuasão, ignorei todo tipo de comércio e palavrório. As palavras que entravam pelo meu ouvido esquerdo saiam pelo direito, enquanto as que entravam pelo direito não tardavam em sair pelo esquerdo. Procurei ignorar as lojinhas de biscoitos finos e lanches rápidos, assim como as de bugigangas, tudo com o máximo de arrogância possível, a ponto de me iludir que estava batendo o presidente Lula (aliás o Lula Molusco não fica muito atrás, é, aquele do Bob Esponja, lembra? Êta sujeitinho arrogante! Será que é mal do nome?).

(continua...)

Renato Fialho Jr.