Artigo nº 005 - teórico

O mundo segundo os lunáticos


15/10/2011 - Não é muito raro que escutemos a seguinte argumentação: "a Terra está com seus dias contados e há de se descobrir, no universo, algum outro planeta que ofereça condições para a vida humana e então migrarmos para lá".
Olha! Já ouvi coisa parecida de intelectuais respeitáveis, ou seja, com algum tipo de engajamento político no passado ou no presente, o que soa bastante estranho. Vou dar um exemplo. Num curso ministrado no Colégio Monteiro Lobato, em Nova Iguaçu, no ano de 2010, ouvi da boca de Vladimir Palmeiras (que entrou pra história ao liderar a passeata dos cem mil nos anos de chumbo), um dos ilustres convidados ao curso organizado pelo professor Estévan, algo do tipo: temos que investir em tecnologia, a fim de descobrir um novo planeta e preparar nossa fuga. Essa é a nossa única saída!.
Não resta dúvida de que esta forma de abordar o tema é extremamente pessimista. Parte do pressuposto de que a lógica inerente ao mercado, malgrado destruidora, venal, desumana e absurda, venceu. Pior ainda: venceu não uma mera batalha, mas uma guerra final, o que significa dizer que estamos diante do "fim da história" e da completa incapacitação dos derrotados e de suas gerações futuras em reagir!
Mas, quem são os derrotados? Talvez aqui esteja o ponto.
A ONU acaba de divulgar que atingiremos, ainda neste mês de outubro de 2011, o expressivo número de 7 bilhões de terráqueos. E a pergunta é sarcástica: Como, assim, perdemos?
Somos no mínimo 6,5 bilhões de supostos derrotados, fora os outros 500 milhões que pensam que são vitoriosos, ou por mero puxa-saquismo, ou por possuírem "status quo": poder ilusório, poder mesquinho, poder irracional - "tudo que seu mestre mandar, faremos todos", mesmo que seja uma ordem tola, desumana e degradante. E além do mais temos sabido nos levantar, conforme a nossa consciência se reencontra com a máxima cartesiana: "cogito ergo sun" ou "penso logo existo". Para em seguida se reencontrar com a teoria da práxis, com a perspectiva otimista e realista de Marx que nos alertou, já naquela época, da necessidade de trocar um sonho alienado (que não nos pertence) por um sonho libertador e desalienante. Um sonho que se realize na medida em que aprendamos a nos mover no terreno movediço e traiçoeiro da política e da história. "Proletários de todos os países, uni-vos!", exaltou-nos Marx.
Há séculos que as igrejas prometem nos salvar. Mas cada vez mais, como já nos dava pista o astrônomo Carl Sagan, a religião tende a se refugiar no espaço sideral, numa visão extra-terrestre de salvação não apenas da alma, mas de corpo-e-alma, se aproximando cada vez mais de uma postura filosófica materialista (que condiciona a idéia à existência material, concreta).
A pergunta cada vez mais é: Como se livrar da hecatombe que se avizinha e, de certo modo, se planeja? O capitalismo tem uma porta de saída nada original e ineficiente para todos. É a velha máxima popular: farinha pouca, meu pirão primeiro. Ou aquela famosa lei do Gérson, "o canhotinha de ouro", que numa infeliz campanha publicitária vaticinou: "gosto de levar vantagem em tudo, certo. Leve vantagem você também, fume Vila Rica". Campanha publicitária infeliz, digo, nem tanto por sugerir que se fume, mas por sugerir que se adote uma perspectiva de vida egoísta e pragmática.
Felizmente o mundo está acordando de um terrível pesadelo: a crença de que o capitalismo (egoísta por natureza) nos traria um futuro digno, uma vida melhor para todos. E a concepção religiosa que tem apregoado a crença num suposto "fim da história" está chegando ao fim.
A visão egoísta própria do capitalismo tem ferido gravemente a natureza e o ser humano, se alimentado de preconceitos e de mitologia que nos dividem e nos ferem mutuamente. Que saibamos dar um "adeus" aos lunáticos, aos especuladores, aos inconsequentes, aos banqueiros e sua consciência apodrecida que por hipnose midiática querem que seja também a nossa consciência! Por um "adeus" ao mundo das ilusões. E adiante indignados deste mundo!

Renato Fialho Jr.