Artigo nº 007 - teórico

a estória de uma aluna universitária como tantas outras


14/02/12 - Ontem, ao interrogar uma aluna da UFF (Universidade Federal Fluminense), que se encontra a iniciar o 8º e último período de Ciências Sociais, de como ela via o curso, ela fez uma série de observações. Elas incluiam as matérias de sua predileção, que, segundo o seu ponto de vista, estavam muito condicionadas à qualidade do professor que ministre a disciplina. Em seguida, deu as caracterísiticas do curso e falou da grade comum até o 4º período para os cursos de Ciências Sociais, Sociologia e Antropologia.

Sobre as escolas em sociologia, por exemplo, afirmou que simpatizara a princípio com a escola marxista, particularmente com Marx e Gramsci, e que chegou até mesmo a militar no movimento estudantil, mas que 'enjoou' de Marx e do movimento. Disse preferir, a esta altura do campeonato, a escola pós-moderna e citou como exemplos o polonês Zigmunt Bauman e o teórico da 'Terceira Via', o inglês Anthony Giddens. Quanto aos clássicos, disse preferir Comte e Durkheim. Foi aí então que insisti em Marx e lhe informei sobre o aumento de sua popularidade diante da forte crise que varre a Europa e o Estados Unidos. Afirmou então algo 'tipo assim': 'Pra esse momento Marx pode ser útil'.

E é neste ponto que gostaria de me deter um pouco mais... O ensino de Karl Marx e F. Engels nas universidades se já era problemático no passado, imagine o leitor hoje, quando as instituições de ensino superior ainda estão sob o impacto da bebedeira neoliberal, que reformulou por pelo menos duas décadas os paradigmas mais profundamente entranhados nas ciências que se dedicam ao estudo das sociedades.

É compreensível, embora não justificável, que a aluna em questão (o tipo ideal de aluna, segundo o modelo globalizante neoliberal) tenha uma visão de Marx superficial que a leve a vagar conforme a maré mercantil e seu desenvolvido senso de oportunismo do aqui-e-agora, como é bem próprio da escola pós-moderna, determinada economicamente pela reestruturação capitalista em fluxo, de caráter neoliberal e autofágico.

Tentei alertá-la para o fato, infelizmente não com tanta profundidade como faço agora, de que sua forma de pensar sofria de pragmatismo e que na busca da verdade não se usa estar na moda ('ah! enjoei de Marx como enjoei de usar camiseta laranja') e que um paradigma não se desmonta pela mera 'vontade' de desmontar. Que existe a natureza, a realidade social e que elas obedecem não às nossas 'vontades', mas a determinadas leis que variam no espaço e no tempo, conforme a época histórica e as transformações econômicas operadas e seus reflexos nas relações sociais. Que existem determinações concretas, leis, que mereciam ser consideradas e que 'vontades', 'imaginações' e 'intuições' são da ordem do hipotético (cabível na fase do projeto de pesquisa) e não do resultado da pesquisa, quando são elaboradas as sínteses dialéticas. Como diria Hegel, o ciclo se comporia de tese, antítese e síntese; ou como diria Marx, afirmação, negação e negação da negação.

Restaria então, diria a turma dos pós (-modernos), pensar em Marx apenas quando me convier, se ele me for 'útil' individualmente. Quem sabe assim, quando eu começar a sentir e viver as mazelas de uma crise econômica que, por enquanto, apenas me espreita... Voilà!

Renato Fialho Jr.